domingo, 16 de maio de 2010

FHC x LULA: POLÍTICAS SOCIAIS

Um breve resgate da contextualização das políticas sociais nos governos FHC e Lula

Elizete Feliponi

O dia 1º de janeiro de 2003 não foi um dia comum para o cenário político brasileiro. Não nos intimidamos em afirmar que o país parou para acompanhar, em Brasília ou através dos meios de comunicação, a posse do então eleito presidente Luís Inácio Lula da Silva. Cada gesto ou palavra proferida por ele eram portadores da esperança de um povo que clama por mudanças desde a época em que o país começou a ser colonizado. No entanto, sabemos que as mudanças sociais não dependem só de um presidente, mas de todo o povo. Cada um é responsável, sim, pelas mudanças, porém, é necessário um olhar mais crítico para acompanhar de perto e entender o que acontece nos bastidores desta República chamada Brasil. Para isso, podemos fazer uma observação mais sistematizada entre o mandato de Fernando Henrique Cardoso e o atual presidente Lula.

Fernando Henrique, sociólogo renomado, herdou um país com dívidas, as quais aumentaram e muito nos antigos mandatos de Sarney e Collor. Começou a governar com o objetivo de fazer o ajuste das contas públicas. Uma das formas foi com o plano de estabilização. Nos anos 90 falou–se em privatizar, sendo que FHC fez muitos investimentos nesta área, apostou-se no livre jogo de mercado e também houve a retirada do Estado como agente econômico e produtivo.

Acompanhamos, nestes oito anos de governo, uma política social subordinada, sendo que não é novidade para o país. Delfin Neto dizia: “Esperar o bolo crescer para repartir”. Foi isso que FHC fez, não vimos avanços, pois o social estava subordinado à economia, mostrando uma atmosfera na qual o neoliberalismo tem forte presença.

Claro que o Banco Mundial tem sua parcela de participação muito nítida em todas estas discussões e sua principal orientação é a redução de gastos. Uma situação na qual podemos ver claramente a contenção de gastos é na saúde. Com o ministro José Serra instituiu–se o Plano Saúde da Família, que incentiva o atendimento do doente no lar e com o acompanhamento da família sem a participação do SUS. Ou seja, é redução de investimentos. A família está envolvida e o Banco Mundial considera a família.

A nossa história tem relatos importantes nos quais o povo pede participação ativa nas decisões do Estado e é com FHC que a sociedade civil é chamada a participar das transformações sociais tão almejadas. São criadas, então, as organizações não governamentais.

Podemos observar, com este breve panorama de como foi o mandato de FHC, que as mudanças acontecem, mas a longo prazo e o povo espera que o que não foi solucionado com um, o seja feito com o próximo presidente. Assim, sai FHC, entra Lula.

No seu discurso de posse, ele faz o lançamento oficial da campanha Fome Zero. Com certeza, estas palavras emocionaram e encheram de esperança muitas pessoas.

Lula tem como um dos instrumentos de trabalho no seu governo o PPA (Plano Plurianual), que já existia com FHC. Este plano começou a ser discutido no final de 2002 junto com os ministros, como também com organizações não governamentais como ABONG, INTEREDES e POLIS, que buscam organizar a sociedade civil para participar. Para isso, são realizadas 27 oficinas nos diversos estados com o objetivo de elaborar propostas.

Uma das propostas do PPA é que se retome a reforma do estado pensada por Bresser Pereira no Governo FHC, mas que foi abandonada. A primeira Reforma proposta pelo PT é a da previdência e a segunda é a Reforma trabalhista, com o objetivo de flexibilizar as contratações. Na área social, o PPA busca programas articulados dentro da bolsa família.

Busca–se, também, manter as diretrizes da política macroeconômica.

Inseridos neste contexto de relações por quais tramitam as políticas sociais, Estado e Sociedade Civil ocupam um espaço que serve como ponte para as intervenções e consentimentos que ocorrem e que, de uma forma ou de outra, definem os rumos da vida civil.

Como já vimos, a sociedade civil dos anos 80 pedia muitas coisas, entre elas o poder de participar das decisões a serem tomadas para governar o país. Assim, o Governo FHC cria as Organizações Sociais e chama a sociedade civil para participar. Esta demonstra- se mais ativa, com caráter diferenciado, o qual traz uma forte consciência de cidadania. Ou seja, é uma sociedade que assume novos cargos. Com isso, o Estado diminui o seu papel e transfere mais trabalho para a sociedade, levando o governo a se envolver com a sociedade e a sociedade também se envolve mais com o governo.

No entanto, a sociedade civil do mundo globalizado é fragmentada. Isto acontece no momento que os objetivos e vontades mais particulares, de uma minoria, prevalecem. Podemos dizer que, neste momento, acontece entre os diversos segmentos da sociedade um jogo como o cabo de guerra, onde cada um puxa para um lado e arrebenta no lado mais fraco. No caso dos interesses sociais, quem perde força é a camada mais pobre e menos informada. Claro que este movimento contrário é impotente perante o Estado. Gramsci já dizia que interesses particulares fragilizam o governo, pois são muitos objetivos diferenciados. Acreditamos que, em se tratando de uma construção para a democracia e para a formação de um povo politicamente esclarecido, a máxima “a união faz a força” tem sentido. Porém, neste mundo onde o neoliberalismo tem voz, muitos são os fatores que levam a sociedade civil a ser fragmentada perante o Estado: a acumulação de riquezas; o mercado da concorrência e da competição; as diferenças sociais; a individualização;

a cultura consumista na qual fomos educados e vivemos segundo ela; uma despolitização preocupante, além de projetos e ações divisionistas. Neste panorama de relações nem sempre bem definidas, Estado e Sociedade Civil caminham paralelamente junto com o governo. Neste momento, é interessante pensarmos que tipo de Sociedade Civil está relacionada com o Estado que, de uma forma ou de outra, conduz as políticas sociais.

A Sociedade Civil Democrática é aquela que traz a fórmula Gramsciana de Estado: SOCIEDADE CIVIL + SOCIEDADE POLÍTICA = ESTADO. Para Gramsci, quanto mais a Sociedade Política absorve a Sociedade Civil, mais democrática seria a sociedade e diminuiria o poder de coerção.

A Sociedade Neoliberal é a que mais aparece no momento atual, na qual há a fragmentação do indivíduo. Nela, a Sociedade Civil apresenta–se além do Estado e do mercado. Há muitas organizações sem unificação e cada uma luta por diferentes projetos, como se o Estado não existisse. È o Estado mínimo: liberal e representativo. Sua fórmula é contrária à de Gramsci: SOCIEDADE CIVIL = MERCADO, que é diferente de ESTADO.

Vemos, portanto, uma relação fragmentada entre o Estado e a Sociedade Civil. Acreditamos que a política seja um fator de agregação dos interesses sociais. No entanto, esta deve ser conduzida para a unificação dos mesmos e isto torna-se mais difícil quando a lei do mercado capitalista é a mais forte

SUPERAÇÃO DA CRISE ECONÔMICA NO GOVERNO LULA



O governo Lula continuou e aprofundou a política de geração de superávits primários. Primeiro, aumento a meta de 3,75%, segundo o acordo com o FMI, para 4,25% do PIB. Enquanto o governo FHC atingiu 3,89%, em 2002, Lula conseguiu superar a própria meta, realizando 4,59% e 4,85%, em 2004 e 2005. Entretanto, a conta de juros foi de 7,26% e 8,13% do PIB, nos mesmos anos. Economia

COMPARAÇÃO LULA X FHC - DÍVIDA PÚBLICA E PIB



A comparação dos governos Lula e FHC, o assunto de mais um post dessa série é a verificação da variação anual do Produto Interno Bruto e a evolução da relação dívida/PIB desde 1995. Para não ser acusado de inchar o resultado do presidente Lula, estou acrecentando a estimativa de variação do PIB no ano de 2009, com a perspectiva mais pessimista que é a do mercado, com contração de 0,23% em relação ao ano anterior. Podería também usar as perspectivas de variação do PIB para 2010, que tanto o Banco Central quanto o mercado financeiro projetaram para 5%, mas novamente para evitar desqualificações, para efeitos de variação do PIB vão ser usados os índices oficiais de 1995 a 2008 e a estimativa de mercado para 2009.

A Variação do PIB





O gráfico mostra como o país cresceu de maneira pífia no período FHC, com dois momentos claros de estagnação entre 1998 e 1999 e entre 2000 e 2002. Em oito anos de governo, seis deles tiveram crescimento abaixo dos 3% e a média aritmética da variação do PIB nos oito anos de governo FHC é de 2,29%, o que significa que ficamos quase uma década sem sair do lugar, sem crescer o suficiente para gerar emprego para tantos brasileiros que chegavam ao mercado de Trabalho. No governo Lula a trajetória de crescimento do país foi retomada, e com exceção do primeiro ano de governo, contaminado pela crise herdada do governo anterior, e o ano de 2009, que foi de uma das maiores crises financeiras da história, nos outros anos o país mostrou vigor de crescimento não visto desde a década de 70, durante o chamado “milagre brasileiro”. Em três dos 7 anos avaliados o país apresentou variação de PIB superior a 5% (não visto em nenhum momento do governo FHC), alcançou a média de 3,47% de acréscimo do PIB ao ano, em um aumento de 52% em relação ao período anterior, e essa média certamente vai ser aumentada esse ano, pois todas as previsões do PIB apontam para crescimento de ao menos 5%.

Fonte: http://gmpconsult.com.br/blogdolen/?p=315





FRUSTRAÇÃO ECONÔMICA NO GOVERNO FHC

Os planos econômicos dos dois mandatos de governo de FHC foram com base na macro economia, porém não se esperava que a economia mundial tivesse varias turbulências durante o seus mandatos e resultados negativos para economia brasileira. A política econômica do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998) deu absoluta ênfase à consolidação do ambiente de estabilidade de preços. Durante todo o período, foi mantido um regime cambial semifixo, baseado na administração de estreitas bandas de flutuação. Permitiu-se uma desvalorização cambial a um ritmo relativamente estável, porém insuficiente para a redução do desequilíbrio do mercado em relação ao câmbio real de equilíbrio. No segundo mandato, a sucessão de choques externos desfavoráveis, em presença de desequilíbrios que foram acumulados no esforço de estabilização durante o primeiro mandato, terminou por comprometer o crescimento e reforçaram o processo de fadiga das reformas estruturais, especialmente a reforma tributária e o aperfeiçoamento do marco regulatório. Assim, o novo papel regulador do Estado foi implementado apenas parcialmente. Tais circunstâncias impediram uma elevação da taxa de investimento e uma retomada sólida da economia Finalmente, cabe notar que a política macroeconômica não é tudo. A atenção às reformas deveria estar contida em um projeto maior voltado para o desenvolvimento. As reformas em si deveriam considerar a necessidade de maior estímulo à inversão produtiva, além de incentivo ao aumento da produtividade total dos fatores. Mas, além das reformas, é essencial voltar a atenção para um projeto de desenvolvimento que inclua muitos aspectos de gestão da política econômica, como a necessidade de redução do risco regulatório no Brasil.

Fonte:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702003000200008

Quadro Comparativo: Lula x FHC

Vídeos - FHC e a Educação


Links de acesso:




Programa Brasil em Debate: Eleições de 2010 - Candidatos à Presidência da República: http://www.youtube.com/watch?v=uHZuspQfhy8





Vídeos - Lula e a Educação


Links de acesso:




Todos pela educação não é educação para todos: http://www.youtube.com/watch?v=AWdxHsjYdoE&feature=related




Globo Repórter Desafio da Educação: http://www.youtube.com/watch?v=QI0FPNdvKw8&feature=related



Lula: Estado foi incompetente na educação (Jornal O Globo): http://www.youtube.com/watch?v=t6kQ8yn-Mpw&feature=related

Políticas Educacionais - O Brasil ensinando a 500 anos

Políticas Educacionais - O Brasil ensinando a 500 anos
“A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tam pouco a sociedade muda”.
Paulo Freire
Ao pensar em educação e como ela está inserida nas políticas públicas, é preciso voltar e rever o processo histórico brasileiro. E a partir dessa revisão, vemos que o Brasil está marcado desde sua época colonial por grandes mudanças contraditórias mascaradas por dicotomias de interesses de determinados grupos. Relacionar uma boa gestão com qualidade de ensino é complexo, exige senso crítico do que é preciso ser feito e de como deve ser feito. Existe em nosso histórico educacional uma grande dificuldade de planejamento e de aplicação de recursos. Como dito anteriormente temos uma enorme herança histórica refletida pela educação colonial religiosa que desde sempre foi privilégio da nobreza portuguesa, pois somente com o fato do desembarque dos mesmos é que a educação foi vista como necessidade no Brasil. Esse período educacional ficou a cargo dos religiosos que tinham também o objetivo de formar indivíduos para a igreja, até que em 1759, Marques de Pombal promove muitas mudanças, uma delas sendo a expulsão dos jesuítas. Entretanto apesar de ser uma grande reforma, a elite da época continuou sendo mais favorecida. Após esse período, foram criados alguns cursos superiores, os primeiros sendo no Rio de Janeiro, sendo que a mantenedora dessa idéia era a coroa portuguesa. A administração colonial não tinha enfoque na educação e tudo que foi que feito até então era com objetivos focados em uma classe social e não como um ensino para todos. A Constituição de 1891 colocou em ação a descentralização do ensino feito pelo Ato Adicional de 1834. Todas as mudanças sociais da época, inclusive a quebra da Bolsa de Nova Iorque refletiram também na educação, pois houve um aumento da urbanização e uma nova classe que se formou a partir da industrialização. Essa nova classe dominante de origem estrangeira protestou pela educação e por um aumento do número de escolas. E a partir disso, a educação começa a ser discutida com um olhar mais atencioso. Surgiu então com o Ministério da Educação e Saúde Pública, reformas focadas nos ensinos primários e secundários, porém sem grandes modificações. Até que durante o regime militar, especificamente após o golpe de 64, a educação passa por um processo traumático. Até mesmo alunos e professores foram presos e muitas universidades foram invadidas. E após a criação do MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), a educação ficou muito vinculada à profissionalização voltada para o ensino técnico. Porém um fato contraditório passava a acontecer: o número de escolas públicas aumentavam porém os investimentos entraram em declínio, o que justificou a queda de qualidade do ensino público desde então. E de contrapartida os mais favorecidos optavam pelo ensino privado, sendo os grandes mantenedores das redes privadas de ensino. E a partir da Constituição de 1988 e Lei de Diretrizes e Bases, surge um ideal de descentralização. Lizia Helena Nagel, doutora em Filosofia da Educação, declara que “as políticas educacionais dos anos 90, objetivadas em decretos, leis, resoluções, pareceres e planos decenais, são produtos finais, resultantes, na verdade, de um processo muito mais amplo do que aquele que se movimenta em torno de debates ou discussões sobre a normatização da educação.” Nesse sentido, não se pode confundir, imediatamente, política com a etapa de normatização,com atividades de elaboração e/ou de aplicação de uma determinada regulamentação. A política educacional, embora se expresse, a partir de um dado instante, em diplomas legais, de fato, é um conjunto de medidas agilizadas e sistematizadas pelo Governo para atuar, com maior eficiência, nos mecanismos de produção, distribuição e consumo de bens já instituídos ou em constante renovação. Evocada, ainda que de forma simples, a dimensão do conceito de política, torna-se importante manifestar a compreensão de Estado, jamais entendido como mero governo ou, ainda, como mero poder coativo, limitador da vontade da maioria. Lembra-se, aqui, a força nutriz do Estado, ou seja, a energia vital que o sustenta, oriunda da própria dinâmica da relação social que lhe dá vida. O Estado, ao expressar a organização da sociedade, as suas práticas sociais, não só capta e expõe, ao longo do tempo, as transformações operadas na base do trabalho, como processa a viabilização das relações econômicas, comandando a indispensável harmonização entre interesses conflitantes e/ou diversos da mesma classe ou de classes distintas. Na esteira dos esclarecimentos sobre os termos empregados, convém precisar, agora, o conceito de educação com o qual se trabalha, que bem se distingue do conceito de ensino, de menor abrangência, próprio às atividades que dão corpo às instituições educativas. Educação implica em formação do homem e compreende inúmeros processos, incluindo-se, dentre eles, os ativados pela própria escola em seus diferentes graus, modalidades, estratégias ou técnicas.” Com todo esse contexto é que hoje vemos que toda a movimentação que o Estado teve com Educação pública, ou seja, toda a política educacional, foi desde os tempos coloniais manipulada pela classe dominante em função dos seus interesses saindo do patamar onde é necessário remodelar a gestão pública democrática a favor dos que mais necessitam da educação, mesmo sendo básica; porém com qualidade.
Referências: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u644.jhtm http://veja.abril.com.br/290498/p_094.html http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/qualidade+de+ensino+depende+de+boa+gestao/n1237603132561.html http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/275/27501417.pdf. Ramos, G.,P.,O LÓGICO E O HISTÓRICO NO MODELO DE DESCENTRALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL em: http://www.fclar.unesp.br/publicacoes/revista/gessica.htm, 2010. Nagel, L., O ESTADO BRASILEIRO E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS A PARTIR DOS ANOS 80 em: http://www.pde.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/Textos_Videos/Lizia_Nagel/CASCAVELEstadoPOL.pdf, 2010.

O Direito de Aprender- Governo Lula

O Direito de Aprender- Governo Lula

Ao garantir, por lei, que todas as crianças frequentem a escola partir dos 6 anos de idade, o Brasil avança no sentido de oferecer um futuro melhor para as novas gerações As aulas estão terminando e João Vitor Rivas Pinto, este simpático menino da foto, aprendeu muitas coisas em seu primeiro ano na escola de Ensino Fundamental, inclusive a ler e escrever. Ele tem 6 anos de idade e desde fevereiro freqüenta uma classe da EMEF Oscar Ramos Arantes, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, graças a uma lei que tem tudo para ajudar a melhorar sensivelmente a qualidade do ensino em nosso país: a de número 11.274, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início do ano passado e que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica para aumentar a escolaridade mínima de oito para nove anos no Ensino Fundamental (tarefa que precisa estar atendida em todo o país até 2010). Segundo o Censo Escolar de 2006, as redes de 15 estados, do Distrito Federal e de mais de 2 mil municípios já oferecem a matrícula obrigatória a todas as crianças com 6 anos, como João Vitor. Alguns fazem isso desde antes da promulgação da lei por saberem que um ano a mais de escolaridade pode fazer toda a diferença na vida dessas crianças - e porque essa é uma tendência internacional. Em Portugal, a petizada entra na escola aos 6 anos e ali deve permanecer por, no mínimo, nove. Na Espanha, esse número sobe para dez. Nos Estados Unidos, a idade de ingresso varia de um estado para outro, o compromisso nacional de que todos os estudantes precisam frequentar as salas de aula até completar 16 anos de idade. Nossos vizinhos também vão nessa mesma direção. Na Argentina e no Uruguai, a escolarização obrigatória é de dez anos. Ainda há quem veja com reservas a ampliação do Ensino Fundamental em nosso país. A crítica mais recorrente é de que isso representaria algo como "acabar" com a infância. Mas são inúmeros os argumentos a favor da medida. Entre eles: - A socialização desde cedo. Segundo a pesquisa Educação da Primeira Infância, realizada em 2005 pela Fundação Getúlio Vargas, temos apenas 61,36% das crianças frequentando salas de pré-escola. A obrigatoriedade de iniciar a escolarização aos 6 anos, então, é uma ótima notícia. - Nas regiões mais carentes, colocar as crianças de 6 anos na sala de aula representa também um ganho de qualidade no que diz respeito à alimentação diária. - Com raríssimas exceções, os filhos da classe média e alta se alfabetizam aos 6 anos (e ninguém acha que eles deixam de ser crianças por isso). Por que, então, privar os da escola pública desse direito? - Pesquisas apontam que cada ano a mais de escolaridade pode representar até 15% a mais de salário na vida adulta. - Obviamente, um ano a mais de estudos tem tudo para proporcionar um ganho de qualidade na Educação de todos - e permitir que mais brasileiros se alfabetizem na idade certa, rompendo com um dos ciclos mais perversos existentes hoje em nossa sociedade: o da formação de milhões de analfabetos funcionais. Muito longe de ter sua infância roubada, o pequeno João Vitor e diversos outros colegas dele avançaram enormemente na aprendizagem em 2007 e estão muito felizes com isso, pois não há desafio mais natural para o ser humano do que exercitar a curiosidade e se desenvolver, sobretudo intelectualmente. A chave, claro, é oferecer uma Educação de qualidade para todos. É óbvio que não dá para colocar as crianças aos 6 anos na escola e querer que elas façam exatamente as mesmas coisas que sempre foram exigidas das de 7 anos. Não é esse o ponto, nem deveria ser. "É preciso reconsiderar essa etapa da Educação Básica em seu conjunto", afirma Jeanete Beauchamp, diretora do Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental do Ministério da Educação (MEC). Isso envolve questões de ordem pedagógica (revisão de currículo, formação de professores, reformulação dos espaços físicos e adaptação dos sistemas de avaliação) e também administrativa (contratação de pessoal para atender a essa "massa" nova de alunos, definição da nomenclatura e regras para saber com que idade, exatamente, as crianças podem ser matriculadas). Esse último tópico, aliás, é um dos que provocam mais dúvidas. O parecer número 18/2005 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação estabelece que o futuro aluno tenha 6 anos completos ou que faça aniversário no mês de início das aulas. Outra dúvida recorrente diz respeito ao que ensinar no 1º ano. Por mais que a alfabetização seja, naturalmente, uma meta a atingir, os especialistas defendem que ela não deve ser a única preocupação do professor. Mesclar a experiência da Educação Infantil e garantir que todos tenham espaço para brincar, se divertir e se socializar (além de aprender) também é essencial. Para subsidiar a prática e a reflexão docente, o MEC organizou um kit com brinquedos e jogos. "O objetivo é fornecer alternativas ao livro didático", explica Jeanete. Além disso, o Ministério preparou um extenso documento chamado Ensino Fundamental de Nove Anos, que contém textos de orientação pedagógica, artigos com uma defesa conceitual do que é a infância hoje e diversos outros temas (confira no fim desta reportagem a indicação do site onde esse material pode ser encontrado e consultado). Ainda que muitas redes já estejam se integrando à nova realidade, como vimos no início da reportagem, adaptar todo o sistema educativo para oferecer um ano a mais está longe de ser simples. O secretário municipal de Educação de Taboão da Serra, Cesar Callegari, diz que, "além de ampliar os direitos de acesso à cultura escolar, é importante alterar a estrutura e o funcionamento tanto da Educação Infantil como do Ensino Fundamental, fazendo com que ambos conversem’ mais para garantir o sucesso dessa passagem". De fato, segundo os especialistas ouvidos por NOVA ESCOLA, três são os ingredientes fundamentais: adequar a estrutura física, formar os professores que vão assumir as turmas de 6 anos e montar uma proposta pedagógica clara e consistente. Nas próximas páginas, você vai conhecer quatro experiências, de três estados diferentes (São Paulo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina). Todas, é claro, mesclam os três elementos já citados. Suas histórias podem inspirar quem ainda está apenas começando a se organizar para oferecer uma Educação de qualidade para crianças como o pequeno João Vitor. Fonte: Políticas Publicas. Disponivel em: http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/legislacao/direito-aprender-425381.shtml

CADERNO 4

Caderno 4- Política Economica


Economia no governo de FHCApós o sucesso do plano real, Fernando Henrique Cardoso foi eleito Presidente do Brasil já no primeiro turno com larga escala de votos e tomou posse dia 1º de Janeiro de 1.995, sendo reeleito em 1.998, tendo nos dois mandatos Marco Maciel, do PFL, como vice-presidente. A política de estabilidade e da continuidade do Plano Real foi o principal apelo da campanha eleitoral de Fernando Henrique Cardoso e um dos fatores decisivos para sua reeleição em 1.998, sendo reeleito no primeiro turno. FHC conseguiu sua eleição graças ao apoio do PSDB, do PFL, do Partido Progressista brasileiro (atual PP) e de parte do PMDB, e conseguiu manter uma estabilidade política durante seus oito anos de governo. No primeiro mandato FHC conseguiu a aprovação da emenda constitucional que criou a reeleição para cargos executivos. O governo de Fernando Henrique Cardoso foi marcado pela privatização de empresas estatais, como: Embraer, Telebrás, Vale do Rio Doce e outras estatais. Além da privatização, seu governo também houve diversas denúncias de corrupção, como: a compra de parlamentares para aprovação da emenda constitucional que autorizava a reeleição e também o favorecimento de alguns grupos financeiros na aquisição de algumas estatais. No início do segundo mandato de FHC, em 1.999 houve uma forte desvalorização do real, devido a crises financeiras internacionais (Rússia, México e Ásia) que levou o Brasil a maior crise financeira da história, além de aumentar os juros reais e aumentar a dívida interna brasileira. Os grandes destaques brasileiros foram a implantação do gasoduto Brasil-Bolívia, a elaboração de um Plano Diretor da Reforma do Estado, um acordo que priorizaria o investimento em carreiras estratégicas para a gestão do setor público, aprovação de emendas que facilitaram a entrada de empresas estrangeiras no Brasil e a flexibilização do monopólio de várias empresas, como a Petrobrás, Telebrás e etc. Alguns dos programas sociais criados no governo de Fernando Henrique Cardoso foram: A Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e o Vale Gás. No governo de FHC entrou em vigor a lei de responsabilidade fiscal (LRF) que caracterizava-se pelo rigor exigido na execução do orçamento público, que limitava o endividamento dos estados e municípios e os gastos com o funcionalismo público. Os salários dos funcionários públicos também não tiveram reajustes significativos, uma forma de evitar a inflação e controlar os gastos públicos. O governo de Fernando Henrique Cardoso teve fim no dia 1º de Janeiro de 2003, com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Por Thiago Ribeiro Equipe BrasilEscola.com http://www.brasilescola.com/historiab/governo-fernando-henrique-cardoso.htm

CADERNO 3

Caderno 3- Política Social CONJUNTURA E POLÍTICA SOCIAL

Os chamados anos FHC, consubstanciados em dois mandatos consecutivos (1995- 1998 e 1999 2002), deram continuidade ao processo de consolidação da democracia e fortalecimento das instituições, nessa década e meia de regime constitucional. O que chama atenção nessa retrospectiva, entretanto, é o fato de que cada um dos mandatos apresenta características bem marcadas. De um lado, a trajetória de regulamentação e efetivação dos avanços sociais introduzidos pela Constituição de 1988 e reativados pela gestão Itamar Franco marcou mais fortemente o primeiro dos dois períodos. Os números referentes aos gastos sociais sinalizam um aumento contínuo e sistemático do gasto per capita até 1998. A extensão de direitos a segmentos até então não contemplados pelas políticas públicas aparece como o mote desse período, conferindo à primeira etapa da gestão FHC uma característica mais social, alavancada pela estabilidade econômica dos primeiros anos do Plano Real. De outro lado, o segundo período FHC parece adquirir um caráter distinto, caudatário de uma nova conjuntura econômica em que fica explícita a fragilidade da economia nacional, sobretudo em face do ambiente de crise internacional, com a expressiva alta do câmbio e o conseqüente aumento da pressão sobre a dívida pública. O governo optou pela reorientação da ação do Estado em seus pilares básicos. Internamente, políticas de cunho mais restritivo passam a nortear esse período, capitaneadas pela adoção de alguns mecanismos legais, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, e pela busca de superávit nas contas públicas para fazer frente aos crescentes compromissos externos. A perspectiva neoliberal, que preconiza um Estado menor e uma política social focalizada no combate à pobreza, ganha espaço em detrimento de grande parcela dos avanços sociais pós-1988. Uma outra marca do governo FHC, esta comum aos dois períodos, foi a introdução de uma discussão do problema racial na agenda pública. Em 1995, organizadores da “Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida” entregaram ao governo federal um documento retratando as condições de vida do negro no Brasil e indicando caminhos para superar o racismo e as desigualdades raciais existentes. Como resposta ao Movimento Negro, foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial de Valorização da População Negra (GTI – População Negra), ligado ao Ministério da Justiça. O governo passa a reconhecer, então, a existência de enormes desigualdades entre negros e brancos e a abrir espaços, na sociedade e no próprio governo, para debates sobre a problemática racial, sobre as ações afirmativas e, principalmente, sobre a questão das cotas, em particular sobre cotas nas universidades. A partir da criação do GTI passa a ser proposta uma série de outras ações de caráter afirmativo e valorizativo da população negra no âmbito do governo federal. No ano de 2000, um novo impulso é dado à questão racial com a realização de eventos preparatórios para a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, 8 políticas sociais - acompanhamento e análise 6 fev. 2003 ipea Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada na cidade de Durban, África do Sul, em agosto de 2001. Apesar de todos os avanços obtidos, a atuação do governo federal ainda é constituída por ações desarticuladas, pontuais e descontínuas, promovidas de maneira isolada por determinados órgãos públicos, sem qualquer estratégia de articulação ou integração que possibilite uma redução sustentada do racismo e das desigualdades raciais. No que se refere ao comportamento do mercado de trabalho, o período FHC caracterizou- se pela prevalência de taxas de desemprego elevadas, de queda nos rendimentos médios e de aumento da informalidade, a despeito de uma melhoria em todos os indicadores da área nos dezoito primeiros meses de governo. A partir de 1996, há uma forte inflexão no comportamento desses indicadores, a qual foi motivada pela sobrevalorização cambial e pela grande liberdade na entrada de produtos no país, bem como pelo aumento da produtividade sem aumento significativo na produção. Como conseqüência, o nível de emprego começou a se reduzir, o que foi agravado pelas crises internacionais nos anos que se seguiram e pela resposta do governo brasileiro a essas crises, com aumento da taxa de juros e conseqüente redução da atividade econômica. Com elevadas taxas de desemprego, o rendimento médio dos trabalhadores inicia uma trajetória de queda que se estende por todo o período. Há um aumento da informalidade, ou seja, do contingente de trabalhadores sem carteira assinada ou daqueles que trabalham por conta própria. O crescimento desse setor repercute diretamente no financiamento do sistema de proteção social, que passa a contar com um número cada vez mais restrito de contribuintes. A parcela de trabalhadores desprotegidos cresce com a informalidade, mas a atuação do Estado nas políticas de emprego permanece extremamente focalizada no emprego formal. O setor de Segurança Pública foi fortemente marcado, na gestão FHC, pela publicação do Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP) em 2000, momento em que o governo federal passa a demonstrar um real comprometimento com a área. Até 1999, a ação federal resumia-se a apenas dois programas que tratavam, respectivamente, do reaparelhamento da Polícia Federal e dos investimentos no sistema penitenciário nacional, retirando a questão da segurança pública do círculo de matérias de competência exclusiva dos estados. A evolução dos indicadores da área de segurança indica um crescimento contínuo da criminalidade e da violência durante todo o período FHC, não apenas nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo – influenciados, principalmente, pelo tráfico e pelo crime organizado –, mas denota também um crescimento ainda mais acelerado nos estados das regiões Nordeste e Norte do país. Caracterizam ainda o período o aumento dos homicídios entre jovens, também com destaque para SP e RJ, e a utilização banal de armas de fogo. No setor agrário, o acompanhamento de alguns índices de qualidade de vida e de desenvolvimento desse segmento mostram que, apesar de alguns indicadores apresentarem uma pequena melhora no período, esta evolução nunca foi capaz de alterar de maneira significativa a realidade da população rural. É fato que, durante o período FHC, os índices de qualidade dos domicílios, abastecimento de água com canalização interna, rede de esgoto e aquisição de bens de consumo apresentaram um crescimento significativo. No entanto, essesíndices mantiveram-se sempre em patamares abaixo do esperado e com uma relevante defasagem em relação ao setor urbano. De maneira geral, a atuação governamental traduziu-se em ações desarticuladas e insuficientes, incapazes de alcançar níveis satisfatórios de cobertura da população rural ou de alterar ipea políticas sociais - acompanhamento e análise 6 fev. 2003 9a condição de exclusão a que este grupo está submetido. A comunidade rural permanece sob níveis de desenvolvimento muito inferiores aos verificados no setor urbano. O pequeno produtor mantém-se desvalorizado e desestimulado, encontrando grandes dificuldades para se inserir no mercado de maneira competitiva. Na área de Cultura, o governo Fernando Henrique recebeu, ainda como herança do período Collor, um setor esvaziado, com instituições e políticas desestruturadas. Em resposta a essa situação e às reivindicações dos agentes culturais, há uma inflexão no governo FHC marcada pela reorganização e a reconstrução institucional da área, bem como pela recriação do Ministério da Cultura (MinC). Grandes avanços são obtidos, influenciados fortemente pelos mecanismos de financiamento criados ou modernizados na segunda metade dos anos 1990, principalmente pelas leis de incentivo à cultura, editadas no início da década de 1990 (Lei Rouanet – 1991 e Lei do Audiovisual – 1993). Esses instrumentos legais foram sendo ajustados ao longo dos anos e permitiram que o setor passasse a receber aportes significativos de recursos para financiamento, oriundos tanto da esfera pública quanto da esfera privada, recursos que cresceram bastante no início da década, mas mantiveram-se relativamente estabilizados ao longo dos anos. A revitalização do cinema nacional, dos museus e das bibliotecas é um exemplo da política cultural da gestão FHC. No entanto, essa reestruturação, apesar dos inegáveis avanços alcançados, não foi capaz de desconcentrar o acesso à cultura, que permanece muito restrito aos grandes centros urbanos. Grande parte dos municípios brasileiros ainda não possui bibliotecas, museus, teatros ou mesmo cinemas. No âmbito da Educação, as políticas do início do governo FHC caracterizaram-se tanto por iniciativas de descentralização da gestão da área educacional quanto por uma atuação extremamente focalizada no ensino fundamental, que garantiu um nível de acesso praticamente universal sem, no entanto, lograr uma igual garantia de acesso a um ensino de qualidade. A criação, em 1996, do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) e as primeiras experiências do governo federal com o Programa Bolsa-Escola, a partir de 2001, contribuíram significativamente para a universalização do acesso e para a redução dos níveis de evasão e repetência no ensino fundamental. A educação infantil, por sua vez, durante toda a gestão FHC, ficou relegada a um plano assistencial, com uma expansão do nível de coberturaextremamente reduzida. Já o ensino médio experimentou momentos distintos durante os últimos oito anos, tendo sido até o final da década de 1990 colocado em um plano secundário, com despesas residuais. Essa tendência foi alterada com o lançamento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996, instituindo o conceito de Educação Básica, que engloba desde a educação infantil até o ensino médio, estabelecendo uma obrigatoriedade progressiva e a sua gratuidade. A partir da promulgação da LDB – e o conseqüente estabelecimento das Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio em 1998 – e do aumento da demanda por expansão no atendimento, o ensino médio começa a ser mais valorizado. No ensino superior, a atuação do governo baseou-se no estímulo à expansão do número de vagas, contudo sem o aumento dos gastos federais, o que pôde ser realizado a partir de uma flexibilização e agilização do processo de credenciamento e reconhecimento de cursos e instituições privadas. A fim de fiscalizar a qualidade do ensino oferecido, o governo instituiu mecanismos de avaliação, como o Exame Nacional de Cursos (o chamado Provão) e a Avaliação das Condições da Oferta dos Cursos de Graduação. O esforço da ação fis10 políticas sociais - acompanhamento e análise 6 fev. 2003 ipea calizadora e avaliadora do Ministério da Educação (MEC) em face do ensino de um modo geral aparece como um dos pontos positivos da gestão FHC na área de Educação. A perspectiva de criação de um campo de ação governamental denominado Seguridade Social, no qual se incluiriam as áreas de Saúde, Assistência Social e Previdência Social, composição planejada no próprio texto constitucional, não logrou efetivar- se no período FHC. Com efeito, as três áreas permaneceram estanques e sem sincronismo; o próprio Orçamento da Seguridade Social, previsto constitucionalmente, jamais se consolidou como instrumento de ação integrada, sendo unicamente um quadro demonstrativo das despesas governamentais em Saúde, Assistência e Previdência Social, respectivamente. Além disso, em 1999, o governo Fernando Henrique extinguiu formalmente, por meio de medida provisória, o Conselho Nacional de Seguridade Social (CNSS), proscrevendo, na prática, o principal instrumento institucional de integração da ação governamental na perspectiva da Seguridade Social, tal como concebidoconstitucionalmente. As ações no âmbito da Saúde, da Assistência e da Previdência Social mantiveram-se em suas baias. Na área de Saúde, a despeito de uma melhoria inegável no setor sob vários aspectos nos últimos oito anos, o Brasil ainda permanece em desvantagem quando comparados os indicadores gerais de saúde brasileiros e os de outros países do continente americano. Os dados sobre esperança de vida ao nascer e mortalidade infantil reforçam essa idéia, apresentando constante melhora ao longo dos anos, mas a taxas cada vez menores e sempre inferiores à quase totalidade dos doze países americanos com população superior a 12 milhões de habitantes. Quando se fala em controle de enfermidades, o período FHC foi marcado por resultados bastante contraditórios – positivos em relação a algumas doenças, como Aids e aquelas controláveis por vacinas –, ao mesmo tempo em que se viu ressurgir doenças praticamente erradicadas, como hanseníase, malária e dengue. O setor de medicamentos foi alvo de várias políticas que atuaram de maneira positiva no sentido de solucionar o problema da falta de remédios, como o incentivo à produção nacional e a implantação dos medicamentos genéricos. São destaques desse período: a intensificação, a partir de 1998, do processo de descentralização da gestão do SUS para os estados e, principalmente, para os municípios; a redução das desigualdades regionais de acesso aos serviços do SUS, sem, contudo, conseguir resolver o problema da insuficiência da oferta de serviços mais complexos; e a expansão da oferta básica de saúde. No que se refere à saúde suplementar, esta passou a ser regulada pelo governo federal a partir de 1998, tendo sido criada, em 2000, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável por promover a concorrência e a defesa dos direitos dos consumidores de planos individuais. No tocante às políticas de Assistência Social, o período em análise foi marcado por uma atuação difusa, na qual diferentes instâncias do governo federal, e não apenas a Secretaria de Assistência Social (depois Secretaria de Estado de Assistência Social – Seas), elaboraram e executaram ações e programas de cunho assistencial, voltados para o combate à pobreza. Casos como a criação do Comunidade Solidária, em 1995, vinculado à Presidência da República, o Bolsa-Alimentação, do Ministério da Saúde, e o Bolsa-Escola, do Ministério da Educação, são exemplos importantes dessa realidade. Esses programas, desenvolvidos fora do âmbito da Seas, não foram submetidos a nenhum tipo de controle, planejamento ou análise por parte da secretaria, entidade responsável pela elaboração da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). ipea políticas sociais - acompanhamento e análise 6 fev. 2003 11 Como conseqüência, as políticas de Assistência Social, tomadas em nível amplo, apresentaram- se de maneira desarticulada e desconexa, resultando em programas e ações sobrepostos ou mesmo concorrentes. A primeira gestão FHC caracterizou-se por uma preocupação em ver a assistência como parte de um sistema de seguridade social orientado pela Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), promulgada em 1993. A partir da segunda gestão, as ações de combate à pobreza passaram a se concentrar em programas do tipo “renda-mínima”, o que foi reforçado com a criação do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, cujos recursos eram destinados a programas que tinham como foco as famílias com renda per capita inferior à linha de pobreza ou as famílias em municípios em situação extrema de miséria. Vale destacar, ainda, o processo de transferência de um sistema centralizado para outro descentralizado e participativo de gestão da assistência, com a realização de convênios com entidades e municípios e a criação de fundos, conselhos e planos. No que tange à Previdência Social, deve-se destacar, no período em foco, o esforço em consolidar o sistema previdenciário em suas bases atuariais por intermédio do aprimoramento de mecanismos legais de preservação do sistema. Nesse sentido, a Emenda Constitucional n° 20, de 1998, e a Lei do Fator Previdenciário, Lei n° 9.876, de 1999, constituem dois marcos legislativos. Com efeito, as mudanças propostas pelo governo FHC ao longo de suas duas gestões visavam a sanear financeiramente o sistema previdenciário, ainda que isso pudesse por em questão a própria idéia de proteção social a que estava submetido o sistema por força do texto constitucional. A idéia de uma reforma previdenciária mais ampla, suscitada pelo acúmulo de necessidades de financiamento ocorrido a partir de 1996, engendrou um amplo debate acerca dos limites da privatização do sistema. A reforma propriamente dita não se efetivou, ainda que algumas reformulações importantes tenham sido implementadas – caso da Previdência Complementar e de algumas alterações no sistema, sobretudo no que tange aos servidores públicos. Contudo, a despeito do momento delicado e ao contrário do que ocorreu em outros países da América Latina, o sistema previdenciário brasileiro manteve-se apto a cumprir pontualmente com o pagamento de benefícios para mais de 20 milhões de segurados, desempenhando um papel importante no combate à pobreza que assola os segmentos mais carentes da população. De um modo geral, o legado da gestão FHC parece definir alguns desafios para o novo governo. A questão do trabalho e do emprego continua aberta: desemprego, baixíssimos rendimentos e informalidade grassam, e, nesse sentido, o desafio que se coloca é o de se forjar políticas de geração de emprego e renda com um caráter inclusivo, ou seja, a promoção do emprego associado a um projeto de financiamento efetivo de um Estado do Bem-Estar que se estenda a todos os segmentos da população. Do mesmo modo, a efetiva implantação de uma cultura de Seguridade Social que integre Saúde, Assistência e Previdência Social continua na ordem do dia. A privatização de segmentos de prestação de serviços nas áreas de Saúde e Previdência, assim como a ausência de uma definição mais precisa do papel das organizações filantrópicas na constituição de uma sistemática de ação no âmbito assistencial constituem outros desafios importantes. Na área de Segurança Pública, o desafio da reversão do ambiente de caos social a que estão submetidos alguns dos principais centros urbanos do país deverá suscitar o equacionamento de uma política que associe o tema mais diretamente à questão do 12 políticas sociais - acompanhamento e análise 6 fev. 2003 ipea resgate da cidadania e de sua extensão aos segmentos populacionais mais pobres. Cidadania e democratização do acesso aos serviços devem ser também o mote da área da Cultura. E nesse mesmo sentido, a questão agrária deverá incluir novos interlocutores dos movimentos sociais, cuja expressão mais concreta é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Em síntese, a perspectiva de uma política social inclusiva e de resgate da cidadania aparece como pano de fundo para os novos tempos.
Fonte:IPEA. Políticas Sociais - Acompanhamento e Análise 6 fev. 2003 Disponivel em:http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/bpsociais/bps_06/conjuntura.pdf

A REFORMA EDUCACIONAL NO GOVERNO LULA


Luiz Inácio Lula da Silva, sucedendo FHC, foi reeleito para o atual mandato compreendido entre 1º/01/2007 a 31/12/2010. Sua eleição deveu-se à reunião de forças dos partidos de esquerda, que esperavam há tempos em chegar ao poder. Portanto, de uma política de tendências neoliberais, o país passou a um governo que teve como mote de campanha a justiça social, ou seja, mais alinhado com as idéias socialistas. Sob o comando de Lula e seus ministros foram lançados programas de caráter assistencialista, como Fome Zero e Bolsa Família, este último, na realidade, não é inovação na política nacional, mas revitalização de programas anteriores. No que se refere à educação, o novo governo também realizou algumas alterações, como o aumento de oito para nove anos na educação fundamental. No ensino superior foram introduzidas modificações que podem ser consideradas, não continuísmo do governo antecessor, mas pelo menos alguns desdobramentos que têm por objetivo ampliar o número de vagas em instituições públicas, e permitir que maior número de brasileiros e brasileiras tenham acesso a cursos de graduação. Tais alterações, na realidade, estão previstas no Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Especificamente quanto à educação superior, inicialmente houve a constituição de um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), pelo Decreto de 20/10/2003, que tinha por objetivo analisar a situação desta modalidade e apresentar um plano de ação para as instituições federais de ensino superior. No relatório final constou a criação de novas bolsas da CAPES, o aumento da carga horária dos professores em sala de aula, além do aumento do número de alunos presenciais, e a educação à distância (OTRANTO, 2006). Esta política, segundo críticos do governo em andamento, embora fundamentada no discurso da justiça social e no aumento da oferta de vagas, reveste-se de uma continuidade da ingerência dos organismos internacionais como o Banco Mundial, tal como acontecera no governo precedente. Donde dizer que apesar de uma nova linguagem, “os fundamentos da Reforma da Educação Superior do Governo Lula estão calcados em marcos regulatórios defendidos pelos Organismos Internacionais” (OTRANTO, 2006). Sob esta perspectiva foram editadas a lei 10.891/2004 que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES; a Lei 11.096/2005, que introduziu o Programa Universidade para Todos - PROUNI; e o Decreto 6.096/2007, que cuida do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI. A lei nº 10.891, de 14 de abril de 2004, instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), tendo por objetivo assegurar o processo de avaliação das instituições nacionais de educação superior, além dos cursos de graduação ofertados por essas instituições e o desempenho acadêmico de seus estudantes. O SINAES foi instituído com a intenção de melhorar a qualidade da educação superior, fato que já constava das metas educacionais inseridas no governo FHC. Também busca-se com o SINAES orientar a expansão da oferta do ensino superior e o aumento permanente da eficácia das instituições. O Programa Universidade para Todos (PROUNI), instituído pela Lei nº 11.906, de 13 de janeiro de 2005, cuida da distribuição de bolsas de estudo integrais e parciais de 50% ou de 25% para estudantes de cursos de graduação e seqüenciais de formação específicas, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos. Este programa dirige-se aos brasileiros e brasileiras que não sejam portadores de diploma de curso superior e que possuam baixa renda familiar. Trata-se de uma modalidade de financiamento do ensino superior aos oriundos das classes econômicas menos abastadas de forma a ampliar o acesso destes ao ensino superior. Em contrapartida, as instituições de ensino superior que aderem ao PROUNI são beneficiadas pela isenção de tributos federais, pelo tempo de vigência do respectivo termo de adesão. O Decreto nº 9.096, de 24 de abril de 1007, tem por objetivo criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais. Pautado em metas e diretrizes de redução da taxa de evasão e de ocupação de vagas ociosas, com ampliação de políticas de inclusão e de assistência estudantil, entre outras, o governo editou o REUNI, que conta com a adesão de mais de 50 Universidades federais, as quais apresentaram seus planos de reestruturação para que se efetive a elevação gradual da taxa de conclusão dos cursos de graduação presenciais, além do acréscimo na oferta de vagas para cursos destinados à formação de professores. Verifica-se, então, que a reforma educacional proposta e realizada no governo FHC não se encerrou com o término do segundo mandato, em 31 de dezembro de 1992. As políticas públicas efetivadas no governo Lula não estão assentadas nas mesmas bases daquelas do governo FHC, porém direcionam-se para a expansão do ensino superior moldadas em ações diferenciadas. O governo FHC preocupou-se com a educação básica, deixando que o ensino superior fosse alcançado por outros meios de expansão. A lacuna na educação superior havida no governo FHC foi preenchida pelas instituições privadas de ensino superior que expandiram-se nesse período. O censo educacional da educação superior,no período 94-98, realizado pelo INEP, informa que em 1994 havia 851 instituições de ensino superior no Brasil, aumentando-se para 973, em 1998, contando com percentual de 82,5% de instituições eram privadas. Isto permitiu que para os 2.858.016 inscritos no vestibular de 1998, fossem oferecidas 776.032 vagas, sendo 90.788 vagas pelas IES federais, 70.670 pelas estaduais, 44.267 pelas municipais e 570.306 vagas pelas IES privadas. O governo Lula, por sua vez, atendeu à expansão do ensino superior mediante a adoção de financiamento do ensino superior com a edição do PROUNI, em 2005, e de ampliação de vagas e reestruturação das universidades federais mediante a edição do REUNI, em 2007. Também preocupou-se com a qualidade do ensino superior, mediante a avaliação das IES’s, seus cursos e desempenho de seus acadêmicos, com a implantação do processo nacional de avaliação, o SINAES, cujo resultado pode levar ao fortalecimento do ensino superior e de suas instituições, bem como poderão ocorrer determinação de ajustes em instituições privadas de ensino superior, redução na oferta de vagas ou até mesmo o descredenciamento de cursos e de IES’s.


Disponível em: http://tede.utp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=210 . Acessado em: 15/05/2010.

GOVERNO FHC E A REFORMA DA EDUCAÇÃO





As políticas governamentais seguem o rumo do neoliberalismo com a investidura de Fernando Henrique Cardoso na presidência da República Federativa do Brasil para o período de 1995-1998. A reeleição, para o mandato seguinte, o qual encerrou-se em 31/12/2002, ratificou o rumo traçado. Sua campanha englobava cinco metas prioritárias, a saber: educação, agricultura, saúde, emprego e segurança. O Brasil já havia aberto suas fronteiras para a importação e expansão da tecnologia e ampliação da competitividade comercial, durante o governo de Fernando Collor de Melo. Entretanto a educação pedia atenção e reformas. E FHC, como ficou popularmente conhecido o presidente, prometia estimular a educação brasileira, através de políticas públicas condizentes com a real necessidade, mormente porque a educação nem sempre fora objeto de atenção dos governantes anteriores e, mais ainda, porque o Brasil estava comprometido com pactos firmados com o Banco Mundial e com o Fundo Monetário Internacional, em função de empréstimos internacionais contraídos. Faz-se necessário lembrar que o Brasil havia recém saído de 20 anos de governo militar, sendo Fernando Henrique o segundo presidente eleito pelo voto popular após a referida ditadura. Ávida por mudanças, a República brasileira já estava sob a égide da nova ordem constitucional, inaugurada em 5 de outubro de 1988. Também em decorrência do milagre brasileiro durante os anos do governo militar, em que houve grande desenvolvimento tecnológico, aliado às altas do 101 petróleo, produto do qual o Brasil era dependente de importação, o país estava assoberbado por empréstimos contraídos junto ao Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, é notório que o Banco Mundial, a exemplo do FMI, exerceu um financiamento perverso posto que ampliou a pobreza nestes países denominados periféricos, propiciando a concentração de renda à pequena parcela da população, além de favorecer o aprofundamento da exclusão social . A trajetória do Banco Mundial, instituição criada pela Conferência de Bretton Woods em 1944, passou de organismo voltado à reconstrução de economias destruídas pela II Guerra Mundial a fomentador de desenvolvimento de países periféricos, os denominados países em desenvolvimento. A partir da década de 1980, o Banco Mundial passou a ter mais presença no cenário mundial, ditando regras de reestruturação econômica, agindo como protetor dos interesses dos credores. Os países endividados deveriam seguir a “cartilha” do Banco Mundial, o que, além de garantir o pagamento da dívida também promovia o ajuste interno para a inserção do país na nova ordem global. Fernando Henrique e sua equipe necessitavam, para poder dar conta de sua proposta eleitoral, renegociar os empréstimos junto aos credores internacionais. E, naturalmente, quem é devedor subjuga-se às exigências do credor. Um dos maiores provedores do FMI e do Banco Mundial, além de ser membro do G-7, os Estados Unidos, através de sua influência nos referidos organismos internacionais, espalharam a política neoliberal para todos os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como se fosse a solução mágica para todos os problemas, aí incluindo-se a educação. O ajuste demandava alta de juros, privatizações, enxugamento da máquina administrativa. A equipe governamental, seguindo as tendências iniciadas por Fernando Collor de Melo, ampliou a política de importação, efetivou “privatizações”, extinguiu “monopólios”, promoveu a reforma da previdência social, adequou o país à economia capitalista globalizada. Para tanto, houve, inclusive, reforma na Constituição da República, através de algumas emendas constitucionais, como a que acabou com o monopólio do petróleo. Sobre as reformas efetivadas no mandato de FHC, Luca (2003, p. 489) expressa que:
As reformas levadas a efeito, sobretudo durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1994-98), incluíram a privatização das empresas estatais, regulamentação da concessão de serviços públicos para a iniciativa privada, como transportes e eletricidade, revisão dos cerceamentos constitucionais ao capital externo, além de mudanças na Previdência Social, como fim da aposentadoria por tempo de serviço, e propostas da flexibilização e desregulamentação da compra e venda da força de trabalho. A orientação neoliberal, voltada para o mercado, segundo o jargão dominante, prevê a diminuição do papel ativo do Estado em todos os setores. (LUCA, 2003, p. 489)
Adotou-se como prática neoliberal o desmantelamento do Estado. Seguindo esta tendência, FHC, durante a realização de seus mandatos, empreendeu esforços para diminuir a participação do Estado na economia, extinguiu a aposentadoria por tempo de serviço, o que acarreta tempo maior de contribuição pelo trabalhador ao regime da Previdência Social. Incentivou a entrada do capital externo na economia nacional, pelo que efetivou mudanças na Constituição Federal. Também propôs mudanças na legislação trabalhista mediante a denominada flexibilização. Conforme a explicação “neoliberal”, a flexibilização é tida como necessária para diminuir o custo das empresas no que se refere à folha de salário e, desta forma, permitir-se a abertura de novos postos de trabalho. Sob a ótica dos que aprovam a medida, o engessamento da economia provocada pelas regras rígidas de proteção ao trabalhador é um entrave ao crescimento econômico nacional. Entretanto, Fernando Henrique afirma que “jamais subscrevi as idéias “neoliberais” a favor de um Estado mínimo” (2006, p. 559). Segundo o ex-presidente ele realizou uma reforma de Estado para trazê-lo à modernidade e deixá-lo mais
eficiente, e apto para incorporar as massas empobrecidas. Sem um Estado mais competente, se grande ou pequeno depende das circunstâncias, torna-se impossível enfrentar o desafio de por em andamento uma política social para incorporar as massas empobrecidas. Ao mesmo tempo, sem possuir os instrumentos necessários para lidar com as forças do mercado globalizado, cada vez mais poderosas, por maior que seja o Estado em número de funcionários ou em proporção dos gastos, ele será ineficiente e não servirá ao desenvolvimento do país. (CARDOSO, 2006, p. 559) Houve, pois, o “desmantelamento” do Estado, adequando-o à nova exigência mundial. Não se deve olvidar que o Brasil contemplava uma tradição de oligarquias. Esta presença arcaica, desde os tempos em que o Brasil foi colônia de Portugal, demandava ser alterada para que se oportunizasse uma melhoria na organização brasileira, não somente em termos de políticas como nos serviços públicos. Urgia repensar uma nova modelagem para o “país das alianças”, país em que as elites oligárquicas assumiam uma posição “mais liberal”, sem que houvesse alteração nos objetivos dos “detentores do poder”, os “coronéis”, a permanência de uma classe de dominados. (BURSZTYN, 1990) O mote utilizado pelo então governante foi a modernidade. O Estado brasileiro necessitava incorporar-se à modernidade, atraindo investidores, tornando-se competitivo, produzindo mais. Produzir mais para encampar as massas empobrecidas. Em relação à modernidade o que percebe é a mundialização da economia, o capitalismo global advindo das empresas transnacionais que abalaram as estruturas do Estado-Nação. Ademais, estão presentes na modernização as elites, sejam elas quais forem, das mais diversas organizações como religiosas, empresariais, militares ou intelectuais, que procuram amoldar os demais ao seu pensamento, cabendo aos dominados apenas comportar-se conforme as determinações “superiores” e realizar o que deles se espera. A respeito da modernização, afirma Ianni que O povo, as massas, os grupos e as classes sociais são induzidos a realizar as diretrizes estabelecidas pelas elites modernizantes e deliberantes. Daí a necessidade de alfabetizar, profissionalizar, urbanizar, secularizar, modificar instituições e criar novas, reverter expectativas e outras diretrizes, de modo a viabilizar a execução e dinamização dos objetivos e meios de modernização, modernos, modernizantes. (IANNI, 2001, p. 101) Dentro desta perspectiva depreende-se que a modernidade, que foi o ponto de partida daquela equipe de governo para a efetivação das reformas, encontrou apoio nos objetivos das “elites dominantes”. Pode-se perceber que, independentemente de se incluir ou não como “neoliberal”, o fato inegável é que FHC, auxiliado pela colaboração dos integrantes de seu ministério, efetivamente introduziu modificações no Estado brasileiro, agindo nas áreas da previdência, educação e do funcionalismo público, entre outras, de vez que a estrutura do Estado não mais suportava tamanha envergadura. É de seu período como presidente que foi criado o Ministério da Administração e Reforma do Estado – MARE. Tais alterações que visavam trazer o Estado brasileiro à modernidade, não caberiam tão somente na superação dos problemas econômicos, mas deveriam servir para também superar a alienação política (COUTINHO, 1992), fato que persistia na sociedade brasileira em decorrência dos anos de ditadura militar, em que os brasileiros foram alijados da participação nos destinos do país. Efetivamente as maiores mudanças realizadas no Brasil aconteceram durante os dois mandatos de FHC, para que o Brasil pudesse, segundo palavras do ex-presidente, tornar-se um país mais competente e apto a incorporar as massas empobrecidas. Na questão educacional, o governo FHC procurou atender mais o ensino fundamental, o que certamente foi ao encontro das “orientações” dos organismos internacionais de financiamento. De acordo com o entendimento do Banco Mundial a “educação básica proporciona o conhecimento, as habilidades e as atitudes essenciais para funcionar de maneira efetiva na sociedade sendo, portanto, uma prioridade em todo lugar” (Banco Mundial, apud TORRES, 2000, p. 131). Portanto, houve o direcionamento da educação nacional em conformidade com o que “aconselhavam” os organismos de financiamento internacional, posto que tais organismos estavam alastrando suas políticas econômicas e sociais para os países periféricos. Neste diapasão educa-se a massa de trabalhadores para que ela possa produzir mais, pois não interessa ao Estado um massa de analfabetos que sequer identifica as letras do próprio nome. Ademais, o homem é fazedor, construtor, “criador” de sua própria cultura, incorporando os conhecimentos já produzidos pelos seus antecessores. A educação, por princípio necessitaria produzir a emancipação, o que se constitui num grave problema mundial, estando o globo inserido no capitalismo que produz a exclusão e a alienação. Segundo Adorno, a emancipação “ultrapassa em muito os limites dos sistemas políticos” (2006, p. 175). Essa emancipação que advém do conhecimentoemancipação, proporciona o desvincular-se de determinações emanadas de outrem, seja de organismos de instituições políticas ou mesmo de outra pessoa, surge como um dos novos paradigmas da modernidade, sendo o outro o conhecimento regulação. Enquanto este assenta-se no progressão do caos para a disciplina, aquele comporta o desenvolvimento do colonialismo para a solidariedade (FERREIRA, 2007b). Nesse sentido pode-se depreender que a educaçãoemancipação, que é dirigida para a exploração da solidariedade, de conhecimentos voltados para a expansão do homem enquanto ser social, coletivo, que age em colaboração com seus pares, quebrando a hegemonia do poder centrado na regulação, avista-se como um caminho a ser percorrido pela humanidade na persecução de um mundo mais igualitário e justo. Nas palavras de Ferreira, “a palavra emancipação traduz a idéia de liberar-se de uma dependência, tutela ou opressão” (2007b, p. 252). Impõe-se, pois, a libertação da dominação do conhecimento-regulação em favor do conhecimentoemancipação, da libertação do domínio das elites, proporcionando a todos, homens e mulheres, independentemente de classe social ou condição econômica, o despertar para um novo milênio, o da solidariedade, evocando o seu agir enquanto cidadão consciente e responsável. Neste aspecto, a educação revela-se uma questão importante nas políticas públicas, principalmente nos estados democráticos. O governo FHC implantou políticas específicas como a duplicação da merenda escolar, a distribuição de livros escolares (módulo biblioteca), ampliação do transporte na área rural, capacitação e qualificação de professores, criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) (Lei nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996). Sua política educacional tinha atenção voltada para o ensino fundamental, aliada à melhoria do magistério, com racionalização na aplicação dos recursos financeiros, invertendo-se as políticas até então praticadas por seus antecessores. No MEC as prioridades eram óbvias: ampliar o ensino fundamental, melhorar a qualificação dos professores, tentar pagar-lhes melhor, sobretudo nas zonas mais pobres do país e, ao mesmo tempo, revitalizar o ensino profissional e racionalizar os gastos com o ensino superior. Além disso,
tínhamos que incutir a necessidade de avaliação de desempenho. (...) Tivemos grandes dificuldades para por em prática políticas que invertiam as prioridades, passando-as do ensino superior para o fundamental e, ainda por cima, com medidas de descentralização administrativa, que incluíam, sempre que possível, critérios de mérito, com sucessivas avaliações. (CARDOSO, 2006, p. 514-515) Depreende-se que o governo tinha como um de seus objetivos na
educação, a par da prioridade no ensino fundamental, investir na qualificação dos professores desse nível de ensino, inclusive com aumento nos salários desses profissionais, em especial para aqueles localizados nas zonas mais pobres do Brasil, revitalizar o ensino profissional, porquanto a Constituição da República determina a educação para o trabalho e para o exercício da cidadania. No ensino superior, a ordem era racionalizar os gastos. A instituição de um sistema de ensino, tal como o disposto na LDB, em que se verificam os princípios norteadores da educação brasileira, em cotejo com os comandos constitucionais, poderiam servir para o fortalecimento do modo capitalista de produção, em que a educação pode ser explorada por instituições particulares, visando o lucro, além da mercantilização da educação em todas as suas diversificadas formas presentes na sociedade capitalista. Nesse sentido, a avaliação de instituições e seus cursos de graduação e respectivos acadêmicos, serve como freio na expansão exagerada de instituições privadas de ensino superior que se lançam no mercado movidas pelo objetivo de lucro. Não houve, contudo, a ampliação da educação pública para o ensino médio ou superior, que são deixadas para a iniciativa privada. Durante seu governo inúmeras instituições particulares de ensino superior foram criadas, expandindo-se a oferta de vagas. Também surgiram os cursos seqüenciais e por módulos, que são cursos de graduação de curto prazo (2 anos), para atender a classe trabalhadora, diferentemente dos cursos tradicionais de graduação, de duração entre 4 e 5 anos. Em termos de gratuidade e universalização da oferta de ensino público, Santos (2005) encampa a idéia de que isto é uma “utopia” enquanto não se resolverem outros problemas que influenciam nessa questão, como a desigualdade social. Nesse contexto, FHC, auxiliado por seus colaboradores, aproveitando os dispositivos constitucionais relativos à educação, editou a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a qual estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Esta lei traz um novo ciclo para a educação brasileira, porquanto voltada para o mundo do trabalho e à prática social. A LDB dispõe sobre os princípios e fins da educação nacional, sua composição e modalidades de educação e de ensino, estabelecidas em educação básica e educação superior. A educação básica contempla a educação infantil, o ensino fundamental e médio. No ensino superior encontram-se os cursos seqüenciais, os de graduação, de pós-graduação e de extensão. Durante a égide do Governo FHC foi editada a Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que aprova e veicula o plano nacional de educação, além de inúmeros outros documentos que tratam da educação superior., tais como o Decreto nº 2.306, de 19 de agosto de 1997, que regulamenta as instituições de ensino superior, e introduz a distinção entre universidades e centros universitários; a Portaria nº 301, de 7 de abril de 1998, que normatiza os procedimentos de credenciamento de instituições para a oferta de cursos de graduação e educação profissional tecnológica à distância; a Portaria nº 612, de 12 de abril, de 1999, que trata sobre a autorização e reconhecimento de cursos seqüenciais de ensino superior, revogada pela Portaria nº 4.363, de 29 de dezembro de 2004, em vigência. Percebe-se que é extremamente profícua a produção legislativa para a educação superior nesse período. Quiçá motivado pela novel Constituição é que inúmeros documentos foram produzidos na seara educacional, como os já citados e que serão objeto de análise.

Disponível em: http://tede.utp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=210 . Acessado em: 15/05/2010.

sábado, 15 de maio de 2010

CADERNO 6 - POLÍTICA EDUCACIONAL



















A política educacional executada pelos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) revela o caráter ideologicamente privado assumido na reforma da educação superior brasileira. Essa reforma foi implementada por meio da edição de uma série de instrumentos normativos, tendo como marco de referência a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 9.394, aprovada em 20 de dezembro de 1996, na qual o Estado assumiu papel destacado no controle e na gestão das políticas educacionais. Dentre as diversas alterações adotadas na educação superior brasileira a partir da LDB, merece destaque, nesse estudo, a flexibilização/fragmentação por meio da diversificação institucional e a expansão pela via do setor privado, acentuando a privatização desse nível de ensino. A LDB define no art. 20 três tipos de instituições privadas de ensino: as particulares em sentido estrito (empresariais); as comunitárias; as confessionais e filantrópicas. Observa-se, no entanto, uma imprecisão na definição das instituições confessionais e comunitárias como IES de direito privado. São consideradas comunitárias as IES que tiverem a presença de representantes da comunidade na sua entidade mantenedora. Às confessionais é exigida, além da presença de representantes da comunidade, que tenham orientação confessional e ideologia específicas. Essa imprecisão contribuiu para que a maioria das IES, consideradas sem fins lucrativos, se autodenominem, simultaneamente, de comunitárias, confessionais e filantrópicas, favorecendo as grandes empresas de ensino superior que, por serem julgadas filantrópicas, continuem a receber subsídios públicos. A subdivisão do setor privado em duas vertentes diferenciadas: de um lado os tidos como não-lucrativos e, de outro, os que se apresentam como empresas lucrativas; oferece nova configuração à disputa clássica entre os defensores da escola pública e os defensores da escola privada. Ao distinguir-se das instituições lucrativas, as confessionais ou filantrópicas visam aproximar-se do setor público reivindicando o acesso a verbas públicas. Utilizando a justificativa do caráter não lucrativo essas instituições se autodenominam de públicas não-estatais. A aprovação da LDB, no entanto, favoreceu não apenas as instituições ditas não-lucrativas, mas também o setor empresarial que almeja somente o lucro. Nesses dez anos de vigência, a LDB vem sofrendo alterações, exigidas pela matriz neoliberal, que se expressam no ajuste e na reestruturação educacional impostos aos países da América Latina pelos organismos internacionais como o Banco Mundial (BM). Na educação superior as alterações foram feitas por meio da edição de decretos, leis, portarias e outros instrumentos normativos. Para efeito desse estudo, destacamos as alterações instituídas no Decreto nº 2.207, de 5/04/1997 alterado pelo Decreto nº 2.306 de 19 de agosto de 1997 que regulamentou o Sistema Federal de Educação – por meio do qual o governo normatizou as atribuições das instituições superiores privadas de ensino, admitindo de forma definitiva as instituições com fins lucrativos e estabelecendo a diversificação das instituições de ensino superior em cinco tipos: I - Universidades; II – Centros Universitários; III - Faculdades Integradas; IV - Faculdades; e V - Institutos Superiores ou Escolas Superiores. Embora esse Decreto tenha sido fundamental para a estrondosa expansão do empresariamento do ensino superior no Brasil, a consolidação desse processo se deu por meio da instituição, novamente autoritária, do Decreto nº 3.860, baixado no dia 9 de julho de 2001, que alterou as regras de organização do ensino superior e da avaliação de cursos e instituições, e definiu nova mudança na diversificação das instituições de ensino superior. Em lugar dos cinco tipos de instituições de ensino superior, o novo Decreto estabelece apenas três: I - Universidades; II – Centros Universitários; III - Faculdades Integradas; Faculdades; Institutos Superiores e/ou Escolas Superiores. Observa-se no entanto que, de fato não foi alterada a natureza das IES existentes, sendo apenas reagrupadas diferentemente.
Dando continuidade à reforma privatista da educação superior, o governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2006) aprovou os seguintes instrumentos legais: Decreto 4.914, de 11/12/2003 (dispõe sobre os centros universitários alterando o art. 11 do Decreto nº 860, de 9 de julho de 2001); Lei nº 10.861, de 14/04/2004 (que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES); Lei nº 10.973, de 2/12/2004 (que dispõe sobre incentivos à inovação tecnológica); Lei nº 11.079, de 30/12/2004 (que institui a Parceria Público Privada - PPP); o Decreto Presidencial nº 5.225, de 1/10/2004 (que elevou os Centros Federais de Educação Tecnológica - CEFETs à categoria de Instituições de Ensino Superior); o Decreto Presidencial nº 5.245, de 18/10/2004 transformado na Lei nº 11.096/05 (que criou o Programa Universidade para Todos – PROUNI); o Decreto Presidencial nº 5.205, de 20/12/2004 (que regulamenta as fundações de apoio privadas no interior das IFES); o Decreto Presidencial nº 5.622, de 19/12/2005 (que regulamenta a educação à distância no Brasil e consolida a abertura do mercado educacional brasileiro ao capital estrangeiro); e mais recentemente o Decreto nº 5.773, de 9/05/2006 (que estabelece normas para as funções de regulação, supervisão e avaliação das instituições de ensino superior) e o Projeto de Lei nº 7.200/06, encaminhado pelo governo federal ao Congresso Nacional, em junho de 2006, que estabelece nova regulamentação para a educação superior brasileira.
Esse conjunto de medidas normativas, mantém, fortalece e dá continuidade a política de expansão do ensino superior sob a lógica da diversificação e privatização. É importante ressaltar que a diversificação das Instituições de Ensino Superior segue as orientações do Banco Mundial para a educação superior na América Latina, sistematizadas no documento: “La enseñanza superior: las lecciones derivadas de la experiência” (1995), que recomenda:

A introdução de uma maior diferenciação no ensino superior, ou seja, a criação de instituições não universitárias e o aumento de instituições privadas, podem contribuir para satisfazer a demanda cada vez maior de educação superior e fazer com que os sistemas de ensino melhor se adeqüem às necessidades do mercado de trabalho. (BANCO MUNDIAL, 1995, p. 31).

Essa política de diversificação institucional e da liberalização para a criação de instituições isoladas, se expressa por meio dos dados do Censo do Ensino Superior que mostram que no Brasil havia em 2005, 2.165 Instituições de Educação Superior; destas, 176 eram Universidades, 114 Centros Universitários, 117 Faculdades Integradas, 1.574 Faculdades/Escolas/Institutos e 184 Centros Federais de Educação Tecnológica e Faculdades de Tecnologia.
No período pós-LDB, de 1996 a 2005, ocorreu um crescimento de 27,5% no número de Universidades e de 144,8% no número de Faculdades, Escolas e Institutos. Observa-se uma tendência à substituição do modelo de Faculdades Integradas, que apresentaram um decréscimo em -18,2% no período analisado, pelos Centros Universitários e os Centros de Educação Tecnológica e Faculdades Tecnológicas que apresentaram maior crescimento no período pós-LDB. No ano seguinte à aprovação da LDB, iniciou-se a criação de Centros Universitários passando de 13 Centros em 1997, para 114 IES desse tipo em 2005, um crescimento de 777%. Os Centros de Educação Tecnológicas e Faculdades de Tecnologia foram criados a partir de 1999, após a aprovação do Decreto 2.208 de 1997, que transformou as Escolas Técnicas Federais em Centros Federais de Educação Tecnológica. Esse tipo de IES foi a que apresentou o maior crescimento após a aprovação da LDB passando de 16 em 1999, para 184 em 2005, aumentando 1.050% em apenas seis anos. A Tabela 1 a seguir evidencia a evolução da diversificação institucional.






Ao analisarmos a diversificação institucional nas IES públicas e privadas, os dados do Censo da Educação Superior demonstram que o setor privado expandiu de forma mais acentuada que o setor público evidenciando o aprofundamento da política privatista adotada pelos governos brasileiros no período pós-LDB. Das 922 IES existentes no Brasil em 1996, 211 eram públicas (22,9%) e 711 eram privadas (77,1%). No ano de 2005, eram 2.165 IES no país, sendo 231 (10,7%) públicas e 1.934 (89,3%) privadas. O crescimento das IES no período foi de 134,8%, sendo que as públicas cresceram 9,5% e as privadas 172%. O Gráfico 1 a seguir mostra a evolução das IES públicas e privadas pós-LDB.





Chama atenção o fato de que tanto no setor público como no privado a diversificação institucional é uma característica desse nível de ensino. Analisando os dados do Censo do Ensino Superior no período pós-LDB, fica evidente que a forma de organização institucional predominante no setor privado é de Faculdades, Escolas e Institutos, com 515 IES desse tipo no ano de 1996, passando para 1.493 em 2005, apresentando um crescimento de 190%. As universidades tem sido a forma de organização mais predominante no setor público que no privado. Das 231 IES públicas em 2005, 90 eram universidades (39%) enquanto no setor privado, das 1.934 IES, apenas 86 eram universidades (4,4%). Observa-se, ainda, que as IES organizadas em Faculdades, Escolas e Institutos vêm decrescendo a cada ano no setor público, apresentando no período de 1996 a 2005, um crescimento negativo de -36,7%. Outro tipo de IES que vem decrescendo são as Faculdades Integradas que, no período analisado, foram reduzidas em -63,6% no setor público e -14,4% no privado. Por outro lado, o tipo de IES que mais cresceu no período em estudo foram os Centros de Educação Tecnológica e Faculdades Tecnológicas que, apesar de serem o tipo de organização institucional mais recente no país, apresentaram no setor público, um crescimento de 231,3%, no período de 1999 a 2005 e, no setor privado, cresceram 1.625%, de 2001 a 2005, passando de 8 IES para 131. A Tabela 2 a seguir, mostra a evolução das IES públicas e privadas, por organização acadêmica no período pós-LDB.





Os dados do Censo evidenciam que a política implementada no país para a educação superior favoreceu também a expansão desse nível de ensino com ênfase para o setor privado. Ao analisarmos o Plano Nacional de Educação, elaborado em 1998 e aprovado pela Lei nº 10.172, de 09 de janeiro de 2001, fica evidente que o governo reconhecia a necessidade de expansão do ensino superior no país, mas defendia que essa devia ser feita com a “racionalização dos gastos e diversificação do sistema” além, é claro, da contribuição valiosa das instituições privadas. A meta a ser atingida, em dez anos, era a do atendimento de 30% da população, na faixa etária de 18 a 24 anos, sendo estabelecido que o setor público teria uma expansão de vagas que se mantivesse numa proporção nunca inferior a 40% do total.3 Essa meta, no entanto, está longe de ser atingida uma vez que em 2004, os dados do PNAD (2004) apontam que apenas 10,5% da população brasileira de 18 a 24 anos, teve acesso a esse nível de ensino.
Para agravar essa situação, o PNE prevê, ainda, que a expansão dependerá de uma racionalização, no uso dos recursos, que diminua o gasto por aluno, nos estabelecimentos públicos; da criação de estabelecimentos voltados mais para o ensino que para a pesquisa;da ampliação do ensino pós-médio; e do estabelecimento de parcerias entre união, estados e instituições comunitárias, para ampliar, substancialmente, as vagas existentes.
Pode-se afirmar que a política de expansão das IES privadas refletem de um lado, a omissão dos governos em relação à expansão das instituições públicas, criando uma reserva de mercado para o setor privado. Por outro lado, é recorrente a liberalização e desregulamentação desse setor que tem encontrado facilidades para expandir, por meio da adoção pelo Estado brasileiro de uma série de mecanismos, tais como: a liberalização dos serviços educacionais, isenções tributárias, isenção da contribuição previdenciária das filantrópicas, isenção do salário educação, bolsas de estudo para alunos carentes via programa do Crédito Educativo hoje transformado no Financiamento Estudantil (FIES), empréstimos financeiros a juros baixos por instituições bancárias oficiais como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social-BNDES, o Programa Universidade para Todos – PROUNI4, dentre outras formas de estímulo.
Sobre a expansão do setor privado, os dados do INEP são reveladores da política desenvolvida pelos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Ao analisarmos os dados oficiais sobre o ensino superior brasileiro observa-se que, a predominância do setor privado, tanto em relação ao número de instituições, como de alunos atendidos e cursos de graduação é uma característica do quadro desse nível de ensino.
De acordo com o Censo do Ensino Superior (MEC/INEP), no ano de 2005, foram registradas 4.453.156 matrículas em cursos de graduação presenciais, sendo que destas 1.192.189 em IES públicas e 3.260.967 em IES privadas, o que corresponde respectivamente, a 26,8% e 73,2% do total de matrículas. Analisando o período de 1996 a 2005, verifica-se um crescimento de 138,3% alunos matriculados no ensino superior brasileiro, observa-se, no entanto, que no setor privado esse crescimento foi de 187,8%, mais do triplo que o apresentado pelo setor público que cresceu 62,1%.
Segundo ainda dados divulgados pelo referido Censo foram registrados em 2005, 20.407 cursos de graduação presenciais ofertados pelas IES no Brasil, sendo 6.191 cursos ofertados por IES públicas e 14.216 por IES privadas, correspondendo a 30,3% e 69,7 % respectivamente. Observando o período de 1996 a 2005, o percentual de crescimento decursos de graduação presenciais foi de 207,1% em todo o país, sendo que nas IES públicas, cresceram 107,9% enquanto nas privadas foi de 287,8%. A Tabela 3 a seguir mostra a expansão das matrículas e cursos no período pós-LDB.





Outro dado significativo para a análise da política de privatização implementada pelos governos neoliberais brasileiros é o fato de que o acelerado crescimento do ensino superior evidenciado acima, não tem sido suficiente para atender à demanda populacional uma vez que a taxa de escolarização nesse nível de ensino é muito baixa. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2004 (PNAD/IBGE), a taxa de escolarização era 18,6% em 2004, enquanto a taxa líquida, era de, apenas, 10,5%. Isso quer dizer que dos 24.072.318 jovens brasileiros que estão na faixa etária de 18 a 24 anos, apenas 10,5% estão matriculados no ensino superior. Comparando com dados de outros países fica evidente que o Brasil apresenta uma das piores taxas de escolarização bruta, perdendo apenas para o Paraguai e África do Sul (Coréia, 72%; EUA, 72%; Portugal, 47%; Argentina, 48%; Chile, 38%; Uruguai, 34%, Bolívia, 33%; Colômbia, 22%; Cuba, 21%; México, 20%; África do Sul, 15%; Paraguai, 14%;)5. Com isso, percebe-se a dimensão doproblema a ser enfrentado num mundo globalizado onde a ciência, a tecnologia e a cultura são fundamentais para o desenvolvimento societário.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2004 (PNAD/IBGE) mostra que a desigualdade na distribuição de renda no Brasil é cada vez mais acentuada. Dos 181.270.380 moradores em domicílios particulares permanentes, 17.670.978 (9,7%) pertencem à classe de rendimento mensal domiciliar de até 1 salário mínimo; 35.934.490 (19,8%) pertencem à classe de renda mensal de 1 a 2 salários mínimos e 29.255.748 (16,1%) são moradores em domicílios cuja renda mensal é de 2 a 3 salários mínimos. Portanto, nessas faixas mais baixas de rendimento encontra-se um total de 45,7 % dos habitantes do País. Os moradores em domicílios particulares cuja renda mensal é acima de 20 salários mínimos são 6.669.825 o que representa 3,7% da população residente no Brasil.
Em estudo realizado para o INEP, Amaral (2006) demonstra, por meio da análise dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2004, que a expansão do setor privado chegou ao limite devido o baixo rendimento médio mensal das famílias residentes em domicílios particulares no país. Essa desigualdade evidencia que a política de expansão do ensino superior pela via do setor privado, encontra limites que se dão pela própria incapacidade financeira das famílias manterem seus filhos nesse tipo de estabelecimento de ensino.

Considerações finais

A reforma do Estado brasileiro implementada nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva por meio da adoção de uma série de ajustes estruturais na economia, trouxe conseqüências diretas para a política educacional brasileira, com ênfase na educação superior.
O movimento de privatização desse nível de ensino tem sido intenso e se evidencia tanto pela expansão do setor privado como pela privatização das IES públicas. Esse movimento vem transformando a universidade pública num modelo educacional que privilegia a mercantilização do ensino como a principal forma de superação da crise institucional que ela vivencia. Assim, a privatização interna das instituições públicas ocorre por meio da utilização de diferentes mecanismos, dentre os quais destacamos: criação de fundações de direito privado; cobranças de taxas de mensalidades de cursos de pós-graduação lato sensu; convênios e contratos de prestação de serviço com empresas privadas para o desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão; dentre outros, com a finalidade de captar recursos no mercado.
Os dados evidenciam que a política para a educação superior, promovida pelos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva, incentivaram a ampliação da oferta desse nível de ensino com a redução dos custos e o privilegiamento da mercantilização do mesmo, seja por meio do crescimento de IES privadas com fins exclusivamente lucrativos ou da abertura das IES públicas para o mercado.
Para implementar essa política, os governos neoliberais brasileiros defenderam o afastamento do Estado da manutenção plena da educação superior pública (o que ficou explícito nos vetos do Plano Nacional de Educação por Fernando Henrique Cardoso e sua manutenção pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva)6 incentivando a livre competição mercadológica entre as instituições de ensino superior. Com isso, as políticas para a educação superior foram reduzidas a uma política de gastos, ao mercado e ao econômico, “aproximando-se as universidades públicas ao modelo de empresas prestadoras de serviços que conduzem a novas formas de organização e gestão, acirrando o movimento de concorrência entre essas instituições”. (CHAVES, 2005).
A redução dos investimentos públicos e a defesa da diversificação das fontes de financiamento foram centrais na reforma da educação superior adotada no país. Essa reforma cumpre as orientações do Banco Mundial que apresenta como uma de suas teses a de que a crise da educação brasileira deriva do modelo de universidade de pesquisa (modelo humboldtiano), que seria excessivamente unificado e caro. Nesse sentido, a defesa da indissociabilidade entre ensino-pesquisa e extensão é inviável teórica e financeiramente., como se evidencia no relatório:

(...) maior autonomia institucional é a chave para o êxito da reforma do ensino público superior, especialmente a fim de diversificar e utilizar os recursos mais eficientemente (...) A experiência demonstra que se quer que as instituições estatais melhorem sua qualidade e eficiência, os governos deverão efetuar reformas importantes no financiamento a fim de mobilizar mais recursos privados para o ensino superior em instituições estatais (...) de várias maneiras: mediante a participação dos estudantes nos gastos; arrecadação de recursos de ex-alunos; utilização de fontes externas; realização de outras atividades que gerem receitas. (grifos nossos). (BANCO MUNDIAL, 1995, p. 44 e 69).

Essa tese fundamenta-se no argumento de que o conhecimento propiciado pelo ensino superior deve ser visto como um investimento produtivo (pois garante ganhos), um bem privado ou uma mercadoria de interesse individual negociado no mercado de trocas. Isso fortalece a idéia de que o Estado deve se afastar da manutenção desse nível de ensino uma vez que a educação superior passa a ser considerada como um serviço público não exclusivo do Estado e competitivo.
Assim, a reforma em curso na educação superior brasileira vem paulatinamente transformando as Instituições de Ensino Superior públicas em organizações sociais cujos contratos de gestão estabelecidos com o governo, por meio do Plano de Desenvolvimento Institucional, traduzem a proposta do Plano Diretor da Reforma do Estado preconizada por Bresser Pereira. Trata-se, de fato, da implantação de um Estado economicista e empresarial-gerencialista, onde a satisfação das demandas do mercado e de sua lógica da competição ocupam lugar de destaque.
Após dez anos da promulgação da LDB, os dados evidenciados nesse estudo revelam que a política expansionista adotada, pelos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, por meio da diversificação institucional e pelo aprofundamento da privatização do ensino superior, sem acréscimo de recursos públicos, apesar de ter promovido a expansão do acesso não corresponde à grande demanda populacional existente, em especial, na faixa etária de 18 a 24 anos. O Censo da Educação Superior, demonstra que apenas 10,5% desses jovens tiveram acesso à educação superior sendo que,a maioria expressiva dos alunos matriculados no ensino superior brasileiro, 73,2%, está no setor privado e, em instituições isoladas de ensino que não desenvolvem pesquisa e extensão.
É possível afirmar que a meta estabelecida no Plano Nacional de Educação em atender 30% dos jovens da faixa etária de 18 a 24 anos no ensino superior até 2011 está longe de ser cumprida pelo governo, se mantidas essas políticas. Somente com acréscimo significativo de recursos públicos esse quadro poderá ser alterado em médio prazo.
Ressalta-se que a Reforma da Educação Superior proposta pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva e, encaminhada ao Congresso Nacional por meio do Projeto de Lei 7.200/20067, não contribuirá para a mudança desse quadro uma vez que limita os recursos para as IFES em 75% dos 18% dos recursos de impostos vinculados da União por um período de 10 anos, além de manter a Desvinculação de Recursos da União (DRU) no cálculo orçamentário. Por esse mecanismo, se subtrai 20% das receitas tributárias (sobre as quais as receitas vinculadas são definidas). Assim, em 2005, R$ 31 bilhões foram subtraídos da base de cálculo, o que significou retirar 5,6 bilhões de reais do orçamento da educação.
Ao mesmo tempo em que pretende reduzir, ainda mais, os recursos para desenvolvimento e manutenção das instituições federais de ensino superior, o governo as estimula a captarem recursos no mercado capitalista com vistas a minimizarem a criseinstitucional que vivenciam (SANTOS, 1996). A intenção é a de atrelar a educação à lógica do capital, na medida em que a universidade pública, ao buscar recursos no setor privado, ficará atrelada aos interesses empresariais, à inovação tecnológica e ao comércio exterior, dentre outros.
Desse modo, a educação de direito público e dever do Estado será transformada numa atraente mercadoria a ser negociada no mercado capitalista de serviços, nacional e internacional. Ora, sem a garantia de financiamento público para o sustento integral, as IES públicas seguirão a lógica da gestão empresarial, perdendo a frágil autonomia que ainda possuem, na medida em que a agenda da universidade será definida a partir dos interesses privados.
É importante salientar, ainda, que esse projeto do governo federal mantém a excessiva fragmentação da educação superior brasileira. Pela proposta, as IES poderão ser organizadas em universidades, universidades tecnológicas, faculdades, centros universitários e centros tecnológicos. Embora essa subdivisão da educação superior seja um pouco menor do que a atual, as emendas ao PL resgatam e até aumentam ainda mais a fragmentação desse nível de ensino.
Em síntese, podemos afirmar que, a reforma em curso para a educação superior brasileira, dificultará ainda mais o acesso da maioria da população ao ensino superior público e de qualidade que é um direito de todo(a)s e deve ser garantido pelo Estado brasileiro. A formação de profissionais de alta qualidade é uma necessidade urgente para o desenvolvimento da sociedade brasileira com redução da exclusão social.



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Caderno 6- Política Educacional
O SIMPLES FUNCIONA - Governo FHC MEC revoluciona o ensino sem projetos mirabolantes Esdras Paiva
Foto: Jader da Rocha Peça de teatro numa escola em Curitiba: sistema de ciclos eliminou a repetência.
Da educação brasileira já se disse quase tudo — ela é uma chaga nacional, a vergonha do país, o fator que condena os brasileiros à miséria. E isso tudo, infelizmente, ainda é verdade, segundo dez entre dez especialistas no assunto. A boa notícia é que não ficará assim por muito tempo. Dentro de quatro a cinco anos, o Brasil estará colhendo os bons resultados de uma verdadeira revolução silenciosa que está mudando a cara do ensino fundamental, que vai da 1ª à 8ª série. Trata-se de um universo enorme: são 34 milhões de alunos, 1,4 milhão de professores e cerca de 200.000 escolas, a esmagadora maioria no setor público. Entre essa massa, a política educacional do governo deu um belo salto, ganhou dinamismo e já começa a fazer algumas diferenças. "A política educacional de hoje é a mais consistente das últimas décadas", diz o professor Claudio de Moura Castro, que está na galeria dos mais respeitados especialistas em educação do país. "É a primeira vez na história que se vê uma gestão de educação como essa", festeja o pedagogo João Batista de Araújo, que dá consultoria educacional a cinco Estados. Com atraso histórico em relação até aos vizinhos da América Latina, o Brasil começou a correr atrás do tempo perdido com algumas mudanças simples (veja as novas iniciativas do MEC). A mais significativa, que entrou em vigor neste ano, é a criação de um fundo de nome quilométrico: chama-se Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, já apelidado de Fundão. Com ele, pela primeira vez na história, o ensino da 1ªà 8ª série está tendo dinheiro garantido, cerca de 13 bilhões por ano, mais do dobro dos anos anteriores. O Fundão é uma cesta de impostos que o governo federal distribui a Estados e municípios de acordo com o número de alunos matriculados no ensino fundamental. Resultado: todos os alunos, do Acre ao Rio Grande do Sul, terão no mínimo 315 reais por ano. Além disso, 60% do dinheiro deve ser destinado ao pagamento de professores. Isso fará com que os salários sejam aumentados entre 45%, nas regiões mais ricas do país, e 200%, nas áreas mais pobres. Caçador de idéias — O Estado brasileiro é pródigo em gastar muito, mas aplica mal o dinheiro. Em nações como o Brasil, a ONU recomenda gasto de pelo menos 250 reais por aluno ao ano — e o país está acima desse patamar. Em relação ao PIB, o gasto brasileiro também não faz feio. É igual ao da Espanha ou Portugal, e bem superior ao de países como Argentina e Chile, onde o nível educacional da população é muito mais alto que o brasileiro. O mérito do Fundão foi racionalizar esses gastos e, com isso, corrigir enormes distorções. Antes, o dinheiro era distribuído aos Estados e municípios sem levar em conta o número de alunos matriculados na rede pública. O efeito disso é que a prefeitura de Bragança Paulista, interior de São Paulo, que tem apenas 224 alunos na sua rede municipal, recebia uma bolada tal que podia aplicar até 17.000 reais por aluno, valor tão enorme que não encontra paralelo nem nas economias mais ricas do planeta. Já a prefeitura de Porto de Moz, cidade nos confins do Pará, recebia 50 reais por aluno. Com o Fundão, a diferença de investimento entre o aluno da rede municipal de Bragança Paulista e o de Porto de Moz vai cair substancialmente. Com isso, 2 bilhões de reais vão trocar de mãos, corrigindo excesso de um lado e escassez de outro. À frente do ministério desde o início do governo, o ministro Paulo Renato Souza virou um caçador de boas idéias, no Brasil e no exterior. O próprio Fundão é uma idéia que o célebre educador Anísio Teixeira já defendia nos idos da década de 50. A diferença é que, de lá para cá, dois ministros resolveram pôr em prática as boas idéias. O primeiro foi Murílio Hingel, ministro da Educação no governo de Itamar Franco, cujo trabalho é elogiado pelos especialistas. O segundo foi o ministro Paulo Renato. Na sua gestão, ele se empenhou em recolher as boas iniciativas e orientar os Estados para que as adotem. Do Maranhão, trouxe a idéia das "classes de aceleração", usadas no combate à repetência. No Paraná, descobriu a experiência dos "ciclos de alfabetização", que acabam com as séries. Com a experiência de Goiás, aplicou mudança radical na distribuição de merenda — o MEC deixou de centralizá-la, entregando o dinheiro na mão dos diretores das escolas. Em Minas, viu como estava dando certo a descentralização geral de recursos, e não apenas da merenda. O programa TV-Escola, que colocará aparelhos de TV, videocassetes e antenas parabólicas em 50 000 escolas, foi inspirado numa experiência desenvolvida na Inglaterra e no México.
Antes, o MEC era o centro dos grande projetos, onde geralmente só se pensava em construir escolas. Agora, o trabalho vai a detalhes como sugerir inovações para o resto do Brasil e zelar pela execução das propostas. Exemplo: fazer avaliação de livros didáticos. Antes, pensava-se em Ciacs monumentais, as escolas de 1 milhão de dólares do governo Collor, mas não se examinava o material que o aluno lia. Em 1996, o MEC montou uma comissão para analisar os livros. De cada quatro, três continham absurdos. Diziam que o presidente do país ainda era José Sarney, que o pulmão é um músculo e que o Brasil tem apenas 23 Estados. No ano passado, a situação já era melhor — dois de cada quatro livros foram rejeitados. Durante anos, imaginou-se que o problema do ensino no Brasil fosse a falta de escola. Até mesmo o programa da campanha eleitoral do presidente Fernando Henrique, o Mãos à Obra, Brasil, estimava que 4 milhões de crianças estavam fora da escola por falta de vaga. Ao montar um eficiente instituto de estatísticas, considerado o melhor da América Latina, o MEC descobriu que esse não era o problema. Em 1996, o Brasil tinha 28,5 milhões de jovens de 7 a 14 anos, faixa etária na qual o estudo é obrigatório. E o país tinha 33,1 milhões de alunos matriculados. Bastou esse dado para chegar à conclusão de que o grande gargalo da educação no país, na verdade, era outro — a repetência. Com diagnóstico mais preciso, o governo pôde pensar em políticas mais adequadas. Constatou-se a dificuldade, por exemplo, de alfabetizar um repetente de 14 anos com frases do tipo "Ivo viu a uva". Daí, cresceu a idéia de estimular as "classes de aceleração" do Maranhão, onde os alunos têm material didático próprio para sua idade. Neste ano, mais de 500 000 alunos participarão de projetos desse tipo. É um ataque ao coração do problema. Um problema tão grande que o país gasta, em média, cerca de 2,5 bilhões de reais por ano com repetentes. Atraso de décadas — Nas últimas décadas, a educação no Brasil passou por um tremendo avanço. Na época em que se faziam elogios rasgados à escola pública, ela funcionava apenas nas grandes capitais e seu público era uma elite restrita. Em 1960, só metade das crianças em idade escolar conseguia pôr os pés numa sala de aula. Na década seguinte, as escolas espalharam-se pelo interior do país, a educação tornou-se acessível para uma massa mais ampla, mas toda a expansão deu-se sem nenhuma preocupação com a qualidade do ensino. Nessa época, o governo privilegiava o ensino universitário, que atendia uma fatia minúscula da população — menos de 1%. Não era malvadeza do governo militar desse período. A prioridade à universidade se explica pelo projeto de país que os militares tinham em mente — um país auto-suficiente em relação ao mercado externo, capaz de atender sozinho a suas necessidades. "Era um caminho coerente com o modelo de desenvolvimento fechado", diz o ministro Paulo Renato. "Não havia concorrência e precisávamos desenvolver tecnologias agrícolas, de telecomunicações, de combustível." Como esse modelo econômico desabou, a educação no Brasil ficou suspensa no ar — voltada para algo que não existe mais. Enquanto o Brasil só tinha olhos para a universidade, a Coréia do Sul, por exemplo, lutava duramente para superar sua deficiência de ensino básico. Em 1953, só 13% dos coreanos eram alfabetizados. Hoje, quase 100% estão matriculados no ensino fundamental e cerca de 75% completam o ensino médio, o antigo 2º grau. O Brasil, no início dos anos 50, estava muito melhor que a Coréia. Metade da população brasileira sabia ler e escrever, mas, de lá para cá, o país fez muito menos que a Coréia. Com a estratégia de priorizar o ensino fundamental, o governo está apenas tentando superar um atraso de trinta anos. "O Brasil fez uma opção equivocada ao priorizar o ensino superior", diz a secretária de Educação de São Paulo, professora Rose Neubauer. "Estamos corrigindo um erro histórico." O dinamismo do MEC de hoje só é comparável ao dos tempos do governo João Goulart. Naquela época, o país debatia o tema da educação e se preocupava com a qualidade do ensino. A diferença é que, no governo de Jango, a educação era uma pauta política. "Falava-se na reforma universitária, na educação de jovens e adultos e nas reformas de base. A atenção à educação se explicava pela luta política da época", afirma o sociólogo Celso Beisiegel, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Agora, a discussão ficou mais técnica. As iniciativas do Ministério da Educação têm sido bem recebidas. Na essência, há certo consenso de que o MEC está no caminho correto. As críticas mais duras são voltadas para o ensino universitário, que vem sofrendo sangria de cérebros. A maioria das instituições federais de ensino está em greve. Os professores, sem aumento há três anos, pedem reajuste de 48%. Há outros gargalos a ser vencidos, mesmo porque a herança brasileira no campo da educação é péssima. "O fator mais importante é que as mudanças estão caminhando na direção certa", diz o professor Claudio de Moura Castro. Fonte:http://veja.abril.com.br/290498/p_094.html
Reforma da educação superior brasileira – de Fernando Henrique Cardoso à Luiz Inácio Lula da Silva